quinta-feira, 1 de maio de 2008

Cristianismo, capitalismo e contracultura.

A sociedade de mercado, baseada na cultura de consumo, está alicerçada na proposta capitalista que tem pelo menos três princípios: acumular, ostentar e guardar. Por trás destes princípios há uma lógica.

Uma de nossas grandes necessidades é nos sentirmos valorizados: "eu sou alguém" em vez de "eu sou um zé ninguém".

Jung Mo Sung diz que esse "sentimento de ser", que todos buscamos, depende em grande parte do reconhecimento de outras pessoas. É o olhar do outro que me faz sentir que sou alguém. Todo mundo quer ser admirado, amado, desejado. Para atrair os olhares dos outros precisamos ostentar os objetos que as outras pessoas valorizam e desejam.

Frei Betto resumiu bem essa idéia: "a mercadoria, intermediária na relação entre seres humanos (pessoa-mercadoria-pessoa), passou a ocupar os pólos (mercadoria-pessoa-mercadoria). Se chego à casa de um amigo de ônibus, meu valor é inferior ao de quem chega de BMW.

Isso vale para a camisa que visto ou o relógio que trago no pulso. Não sou eu, pessoa humana, que faço uso do objeto. É o produto, revestido de fetiche, que me imprime valor, aumentando a minha cotação no mercado das relações sociais.

O que faria um Descartes neoliberal proclamar: "Consumo, logo existo". Mas o dinheiro não é capaz de imprimir no fundo da alma humana o senso de dignidade e de pertencimento. O "vazio de ser" que existe em cada coração humano somente pode ser preenchido pela voz de Deus que nos chama para a vida e nos confere dignidade: "você é meu filho amado, minha filha amada, em quem tenho prazer", é capaz de preencher o vazio que o dinheiro pretende.

Finalmente, guardar dinheiro é uma forma de combater uma das grandes preocupações humanas. Diz respeito às contingências da vida e ao medo do futuro: como será o amanhã? será que o futuro me convidará a rir ou chorar? o que, de mal ou bem, está destinado a mim? Para responder a essa inquietação, muitas pessoas acreditam que se tiverem uma boa poupança poderão descansar em relação ao futuro.

Você lembra da "Promoção Pé-de-Meia MasterCard®", que prometia garantir seu futuro durante dez anos? Esse é um grande apelo: antecipar, prevenir e prover para remediar os infortúnios da vida. Esta é a promessa sutil embutida no dinheiro. Mas é uma promessa falsa.

O dinheiro não é capaz de nos blindar contra os eventuais sofrimentos futuros. Não importa quanto você tenha na poupança, o dinheiro nunca lhe trará a paz. Guardar não é uma boa resposta à insegurança e ansiedade quanto ao futuro. A poupança é útil como previdência, e nos supre em momentos de emergências, mas não "garante nosso futuro".

Paulo, apóstolo, resume a contracultura cristã com as seguintes recomendações: "Ordene aos que são ricos no presente mundo que não sejam arrogantes, nem ponham sua esperança na incerteza da riqueza, mas em Deus, que de tudo nos provê ricamente, para a nossa satisfação.

Ordene-lhes que pratiquem o bem, sejam ricos em boas obras, generosos e prontos a repartir. Dessa forma, eles acumularão um tesouro para si mesmos, um firme fundamento para a era que há de vir, e assim alcançarão a verdadeira vida".

A cultura de mercado diz que devemos acumular, ostentar e guardar. A contracultura cristã diz que devemos ser gratos e dependentes de Deus, desfrutar das coisas boas que Ele nos dá e repartir generosamente as riquezas que recebemos de Deus.

Cada um avalie seu coração para concluir se vive como angustiado filho de sua cultura ou amado filho de Deus.

Texto de Ed René Kivitz.

quinta-feira, 20 de março de 2008

Esta é a linha bíblico teológica deste blog

Credos de Ovelha.

1.Creio em Deus Pai o sublime pastor, creio em sua oniciência, onipresença e onipôtencia. Creio que não obstante seus divinos atributos, nos ama na pessoalidade de seu ser, demostrando seu amor e cuidado, entregando seu próprio filho, que se fez ovelha de sacrifício, para nos resgatar do aprisco da maldição do pecado, e nos conduzir ao seu regaço de amor.


2.Creio em Jesus o Bom Pastor, nosso cordeiro pascoal, que nos ensinou na vida e na morte o unico ensinamento que nos basta: "Amemos a Deus sobre todas as coisas e ao nosso próximo como a nós mesmos." Creio que sua ressureição se torna prova de que tal verdade é inatingível e inabalável, e que somos chamados, todos indistindamente, a não apenas pregar este amor, mas principalmente vivência-lo na plenitude do Espírito Santo.

3. Creio na pessoa do Espírito Santo, o paracletos (consolador) divino, que foi enviado após a ascessão de Cristo, para ministrar, orientar e promover a vivência plena do evangelho do reino na vida das ovelhas de cristo e daqueles que ainda não fazem parte de seu rebalho. Creio não existir, na terra um representande legal de sua autoridade, mas sim, que sua voz ecoa na palavra inspirada e inerrante ( sem erros) da Bíblia Sagrada e na unidade da comunidade cristã.

4. Creio na responsabilidade pessoal de cada cristão ovelha do aprisco de Deus, em gerar ovelhas, e no chamado pessoal para ministérios espécíficos segundo a necessidade do corpo de Cristo. Creio nos dons de Cristo (ef 4.12) que foram doados a igreja para seu aperfeiçamento, sendo obrigação de todos as demais ovelhas a interceção por estes, tendo em vista a seriedade de tais responsabilidades diante de Deus. Excluo contudo qualquer atitude dicotômica de divisão ou de separação que marginalize uns em detrimento aos mais "agraciados". Todos foram alvos do sacrifício e do amor de Deus, sendo que em seu aprisco "o maior serve o menor" .

5. Creio que na jornada rumo aos pastos verdejantes de nossa morada celestial e ao almejado encontro com o nosso Bom Pastor, somos convidados a participar dos sofrimentos de Cristo (quem quizer vir após mim, nege-se a si mesmo), para darmos testemunho de nossa fé. Diante disso despresso toda iniciativa teológica que incite uma prosperidade sem responsabilidades históricas, sociais e culturais, bem como interpretações baseadas em uma teologia de convêniencias, que visualize o bem estar presente e momentâneo.

6. Creio na existência de lobos devoradores e falsos pastores, que expressam de maneira espiritual e pessoal as artimanhas do Diabo. Creio, embora não aceite, que seu campo de ação tem se estendido muitas vezes para dentro dos apriscos cristãos, onde os mesmos se prefiguram como "ovelhas", através de suas capas ornamentadas por discursos anti-bíblicos que produzem vivencias vazias e superficiais do evangelho. Endendo que apenas o poder de Deus, expresso por um avivamento bíblico conduzido pelo Espírito Santo, pode revelar as facetas do diabo derrubando as mascaras da heresia.

7. Creio na responsabilidade pessoal de cada cristão que se vê como construtores de uma história presente, que através de uma atitude profética, tome uma postura de inconformidade (Rom. 12) diante de novas teologias e estruturas religiosas cristãs, que tem desprezado a simplicidade do evangelho, iludindo ovelhas a trocar, pastos verdejantes e agua fresca, por grama sintética e agua engarafada.

De que aprisco nos somos? Certamente depende, de quem consideramos ser o nosso Pastor.
"O BOM PASTOR DA A VIDA POR SUAS OVELHAS"

Glória a Deus.
Cristo é o nosso Pastor.

Texto escrito por: Uma Ovelha.

quarta-feira, 19 de março de 2008

E haverá um só rebanho e um só Pastor.


Quem são as ovelhas?
De quem são as ovelhas?
Quem é o verdadeiro Pastor?

Essas perguntas podem ser respondidas, lendo sem pressa (pressa, um dos males desse século) o capítulo 10 do evangelho de João.
Jesus veio em primeira mão para as ovelhas perdidas da casa de Israel, mas nesse texto Ele diz que existem outras ovelhas, que não são desse aprisco e é necessário que sejam conduzidas para o Aprisco. Para que ouçam a voz do Pastor.

Através da voz, reconhecemos pessoas amadas: esposa, pai, mãe. Em noites escuras e chuvosas, a voz de nossos pais, simplesmente, transmitia segurança aos nossos temerosos corações. A voz de nosso pai nos dizendo por onde deveríamos andar, para que não nos machucasse, bastava para que aceitássemos sem questionar o caminho proposto.
A Voz do Pastor nos guia às águas tranqüilas. Mesmo no vale da sombra e da morte, não precisamos temer, porque Ele está conosco.

Existia um jornaleiro (Almeida versão 1819) que era contratado para cuidar das ovelhas. Das ovelhas do Pastor. Mas na aproximação do lobo e dos perigos que cercam o rebanho, ele tratava de salvar a sua vida (Jo 10. 12) e deixava que o lobo dispersasse e aterrorizasse as ovelhas.

Ele foge porque é assalariado (ver. 13 NVI) e não se importa com a ovelha.

Se importa com a lã das ovelhas. Por que é dali que vem seu salário.
Se importa com a função de pastor. Por que isso lhe dá direito de dominação sobre as ovelhas.
Se importa pelo cargo/posição de pastor. Isso lhe confere status espiritual elevado. Autoridade espiritual sobre as ovelhas.
Se importa em proteger o lugar onde exerce sua função (púlpito). Por que é dali que ele monopoliza a voz do Sumo Pastor.

Mas existe um rebanho que anseia ouvir a voz do seu Pastor. E o Sumo Pastor já deixou claro que quer conduzi-las, porque deu Sua vida por elas. As ovelhas ouvirão a voz do Pastor e o seguirão. E então haverá um só rebanho e um só Pastor.


Texto escrito por: Uma Ovelha.

sexta-feira, 14 de março de 2008

Quanto custa uma pregação???

Em um telefonema....
_...Quanto custa uma pregação???

_ Bom, isto é muito relativo, não se pode de maneira alguma determinar um valor que seja comum a todos os pregadores e a todas as ocasiões. Tudo depende de situações específicas, que devem ser levantadas na hora de se Cotar um pregador.

_Situações específicas? Como assim?

_ Ouça , nossa classe não é lá muito unida, ok? Por isso existe pregadores e pregadores. Há os que só pregam em convenções e conclaves , e disso não abrem mão - são os que se consideram famosos, dizem que não é conveniente pregar em qualquer festinha. Outros até pregam em pequenos congressos, mas...se for intere$$ante. Sabe como é ... esses “ Homens da fé”...

_ Homens da Fé? Para mim são mercadores da fé!
Como um pregador Cristão pode usufluir-se de maneira tão mesquinha , do ministério da palavra de Deus, achando nisto meios para obtenção de lucro? Será isto viver pela fé? Ou aproveitar-se da fé?... dos outros!

_ olhando por esse lado?

_ bem , existe outra maneira de analisar tudo isso?

_ Ora, acorde para a realidade e olhe em sua volta. Tudo tem seu preço, seu valor, e as pessoas sabem disso e por isso pagam.

Quem quer houvir aquele mesmo pregador local? O mesmo obreiro ? A mesma dinâmica ? Você sabe, as pessoas querem novas caras, elas amam o que é novo, o que é moderno. Acredite, nós não induzimos as pessoas a nos pagar, são elas que nos chamam , convidam , eles nos ligam , imploram e esperam , esperam, esperam... esperam como se tudo em suas vidas mudasse com a nossa presença, com a nossa mensagem , nossa apresentação.

E é por esta apresentação que cobramos; pois requer tempo e preparo. Conduzir as massas não é nada fácil, requer experiência, habilidades , conhecimentos ; deve-se primeiro conhecer o povo , sonda-los , saber o que querem; nós perguntamos: o que vocês querem ouvir hoje?... e eles respondem - respondem através dos palfletos , dos temas expostos ... respondem através de seus dialogos , de sua liturgia de sua teologia. Geralmente é a mesma coisa: uma nova promessa, uma nova unção, um novo vigor, uma nova força que alimente seus egos e os façam esquecer o desafio de suas verdadeiras responsabilidades. Estão cansados de seguir , e por isto querem ser levados , conduzidos, não importa mais pra onde, desde que a caminhada seja prazeiroza continuarão a seguir , mesmo conhecendo o infeliz destino.

E nós ? Bem nós não mais pregamos, apenas fazemos uma troca ...
..o que eles querem pelo que nos queremos.


E enquanto quisermos, eles estarão por aí, Vendendo Mensagens.
Texto escrito por: Uma Ovelha.

Como seria a igreja hoje se ....

Se hereges do I Século tivessem conseguido estrurar-se a ponto de fazer frente à verdadeira Igreja de Cristo, quem seriam seus lideres? Quais suas prerrogativas? Qual seria a sua teologia?... Convido-os... A ler o documento do primeiro concílio herético da história da igreja.
O concílio da igreja das Conveniências.

Laudiceia , 25 de setembro de 67
Presidente do Concílio: Rev. Demas 2 Tm. 4.10.
I concílio Laudicense Relatores: Himeneu / Alexandre 1 Tm 1.10
Tema: A Igreja Consultor Doutrinário: Demetrio At. 19.24
Credo Demasiano Consultor Teológico: Elimas At. 13.8


Tendo em vista os constantes ataques promovidos por alguns visionários remanescentes da Igreja verdadeira, que de forma tão impetuosa e persistente tem pregado doutrinas que são contrárias às bases de nossos ensinamentos, nós do corpo concilio laudicense, estabelecemos e postulamos o “Divino Credo”, denominado, por conveniência, CREDO DEMASIANO”, com fins em se estabelecer uma doutrina comum em todas as nossas igrejas, e que preserve de maneira pura e imaculada os ensinamentos recebidos por nosso dilétissimo Pastor e Mestre irmão Demas, homem de amor tão insólito e de exemplo tão esmerado que até as escrituras dele dão testemunho. Sendo assim transcrevemos de forma conveniencial este credo, buscando uma maior clareza sobre os fundamentos da nossa fé.

Artigo 1.
Creio na importância da Igreja, como entidade social e na sua contribuição como órgão promotor de bem estar e entretenimento, tendo como papel preponderante levar recreação de qualidade aos nossos irmãos e filiados. Creio na imprenscibilidade dos clubes, das recreativas evangélicas e da organização de times de futebol, academia de dança, campeonatos de jiu-jitsu e quando possível à aquisição de uma praia particular para pratica de nudismo.

Artigo 2.
Creio na importância e influência da igreja como sacro órgão de formação de opinião pública, na área político-partidária e na ostentação de que tal opinião será sempre a minha opinião, e a mesma será sempre louvada, mesmo que algum fato elementar demonstre o contrário. Cremos no voto de cabresto, desde que a guia seja conduzida por pessoal entendido em número$ e conveniência$.

Artigo 3.
Creio na importância da igreja como ferramenta divina para tratamento de problemas psico-emocionais que atinjam o ego e a auto-estima, principalmente no que tange a auxiliar na recuperação das doenças psicológicas resultantes do contato, por parte do doente, com alguns dos ensinamentos da “OUTRA IGREJA”, como por exemplo: Luta espiritual, Contrariedade, provações, acusações, perseguições e outros problemas que só de pensar deixariam qualquer um estressado. Que as reuniões eclesiais sejam dirigidas por pessoas de competência salutar ostentadoras de títulos em cursos de massagem do ego público e condicionamento emocional.

Artigo 4.
Creio na Importância e exemplo da Igreja como instituição financeira hábil e como modelo capitalista organizacional, creio na autorização divina para a utilização de métodos contábil-financeiros ilegais por parte da igreja, desde que, sejam eles justificados pelo superávit do demonstrativo econômico. Sendo que será denominada “Igreja Verdadeira”, qualquer amontoado de pessoas, que em algum momento passar por necessidades financeira ou falta de recurso e precisar depender da fé.

Artigo 5.
Creio na importância e consolidação da igreja como órgão divino regimentador e orientador para questões relacionadas a costumes e hábitos e na indiscutibilidade de suas premissas, Creio na divinização da cultura ocidental, principalmente a Norte-Americana e na obsorcão consciente de seus paradigmas, ainda que isto venha de encontro com minha realidade histórica, política ou social. A transculturação é um modelo da “Outra Igreja ‘ e de maneira alguma deve ser seguido”.

Artigo 6.
Creio na Importância e relevância da Igreja como monumento físico, paisagístico, histórico e arquitetônico, e na suprema busca pelo conforto interior (assentos acolchoados), estacionamento coberto com manobrista e sistema de ar condicionado com manobrista e se possível à construção de camarotes individuais. Cremos que desta forma a igreja estará cumprindo seu papel evangelístico, ou seja, através de sua infra-estrutura atrairá MUITA$ ALMA$ a Deus.

Em suma;
Cremos na importância e magnificência da nossas igreja. Da nossa. Não da outra. Pois a outra, presa a uma liturgia arcaica, estava repleta de problemas e exageros; se preocupava demais com problemas da esfera espiritual, com os anseios da alma e o vazio interior; pregava demasiadamente a cruz de Cristo, as bem-aventuranças e a necessidade da santificação; deixava transparecer sua insolente humildade e seu caráter de amor ao próximo, e pior que tudo, enfatizava de maneira à premissa-negar-se a si mesmo... . Coisas estas que sabemos, são verdadeiras heresias.

Por isso louvamos e defendemos o caráter da nossa – sublime e santa igreja, sabendo da sua conformidade e comprometimento com a verdade suprema do evangelho- “Eu vim para que tenham vida e com muita abundância (fartura, abastança, profusão), em fim convicto da crença postulamos”:
Importante:
Qualquer que não observar este credo, que seja anátema, ficando tal pessoa sob o juízo de Deus, correndo o risco de ser arrebatada para os céus a qualquer momento caso não se arrependa e neste divino credo creia.

Reverendo Demas - Proprietário da Igreja das Conveniências
Igreja onde os chamados para fora (ekklesia) Não vem e não ficam...... De mãos vazias.

Veja, qualquer coincidência com atual projeção do quadro evangélico Nacional, não é mera coincidência.

Texto escrito por: Uma ovelha.

quinta-feira, 13 de março de 2008

O Doutor, o Coveiro e o Indigente.


Foi um ano terrível pros vivente do Tabulero (Qualquer humilde cidade rural do nosso inconsciente coletivo). Não se basta às secas de maio que acabaram com a roça, mal chego setembro e dá-lhe descambar chuva. E que chuva. Morreu planta, morreu bicho e pior - morreu gente. Apesar da mortandade tinha morrido que não queria assumi sua morte morrida. Complicou? Eu explico.

O Tabulero é um desses sertões escondidos da vida. Local de gente honesta, gente boa, gente de crédito. A cidade não é lá grande coisa, mas as coisas que lá existem são de grande respeito. Entre elas esta o coveiro José, homem que como ninguém sabe sobre nossa finitude e transitoriedade - ainda que nunca tenha ouvido sobre nenhuma destas palavras. O coveiro José mora no cemitério. E a isto deve ao médico que também é prefeito e já foi na capital um dia juiz de direito. Bom, a questão é que o doutor prefeito confia em José, por que José nunca duvidou do sujeito.

Vida de coveiro até que é tranqüila. José nunca passou aperto. Contava até sete e era o que bastava. Sete palmos... (um, dois, três...). Não eram seis, nem oito, eram sete. Cavava sete profundos palmos da terra arenosa de Tabulero, deitava no leito da cova o defunto, depois esperava o lamurio, o amém das beatas, e por fim, a última flor da coroa. Minutos depois restituía a terra até criar um “montinho”, voltando pra casa e aguardava. Na expectativa fúnebre do próximo visitante desalmado.

O Doutor prefeito, que era médico, fora juiz e nas horas vagas Professor era homem bom e competente. Todos o admiravam. Sua palavra era uma bíblia e seu discurso uma profecia.
Quando dizia, se podia acreditar. Ninguém duvidava. Ele sabia. Era estudado. Conhecia.
Falava palavras lindas, ainda que pouco compreendidas. Conjuntura, pressuposto, discrepância, letargia - Não importava o significado. Se ele pronunciara tinha sentido e era o que valia. Discordar de um homem desses, realmente seria pedir pra “morrer”. Bem... Pelo menos isso (morte) o Coveiro José conhecia.
Do acontecimento, voltemos à chuva, que não contente em vir sozinha, trouxe com ela um alguém que ninguém soube de onde. O Doutor prefeito, verificou o caso. Disse que o alguém era um “indigente” e que fora encontrado afogado no arroio de baixo. Como não havia quem se reclame o corpo, o Doutor prefeito despachou o defunto, que por seus cálculos já estava morto a mais de hora. Preencheu o atestado de óbito e mandou José enterrar. Para o coveiro
José o atestado de óbito era uma espécie de salvo conduto pro céu. Ele ouvira falar que lá pras bandas da capital um coveiro tinha enterrado gente viva, gente que não morreu só dormia. Como saber se alguém realmente está morto? O Dr. Prefeito sabia. E com o atestado de um homem que é prefeito, médico, professor e juiz, quem podia? Nem o vigário, Deus me perdoe, pode com ele.
Atestado na mão, pedido acertado, projeto elaborado. A chuva estiou e a pá trabalhou. Buraco escavado. O coveiro José acomoda o esquife no fundo da cova, se prepara para volver a terra, quando de repente... HÁÁÁAÁÁ HÁÁÁÁÁÁ... José pulou pra traz, enquanto o desencarnado continuava a berrar de dentro de seu cubículo de madeira. O que fazer? Como agir? Nunca José tinha enfrentado tantos dilemas:
_ Será que é voz do além, meu Deus? Uma aparição? “Algum” sinal?!?... Eu prometo minha santa senhora: não bebo mais... Nem um golinho. Ainda que eu ache que um golinho de cachaça as “veis”, não é lá grande pecado... Vê só o coroinha do vigário, ele...
José o coveiro continuava ali, com o queixo apoiado no cabo da pá, olhando pra dentro da cova, enquanto o funesto indivíduo berrava exaustivamente. Vários pensamentos passavam na cabeça do Coveiro José, mas nenhum ia de encontro ao veredicto de óbito do Dr. prefeito.
_ Imagine se o doutor ia me manda um vivo pra enterrar, logo ele. Eu até vi quando ele colocou aquele troço no ouvido, pra de ouvi a morte no defunto. Aparelho engraçado. Coisa de gente sabida. E doutor sabe. Se ele disse que o “morto morreu” quem sou eu pra duvidar... Doutor, é doutor, estudou pra isto. Lembro de ter ouvido fofoca de que foi até pros estrangeiro. E eu...bom...
Na cabeça do coveiro José, se alguma coisa estava errada, a culpa seria dele mesmo. Quem sabe não tinha medido bem os sete palmos, quem sabe eram só seis e meio e o defunto era meio exigente? Como quem disse se:
_ Sete é sete, não me enrole.
José mediu, e em meio a berros vindo do caixão, confirmou: eram realmente sete. Qual o problema então? Pensou. Pensou. Depois de alguns instantes, tomados por um espírito aristotélico, cogitou consigo mesmo:
_Pobre e solitário desgraçado, sem flores, sem lamento, sem beata e seus améns. Não deve ser fácil morrer assim sozinho, sem ninguém pra lhe cortejar. Podre homem, miserável. Dizem que o homem no se da conta que é homem na morte. Tudo bem, mas não precisava ser assim, de forma tão lamentável - desumano. É por isso que o pobre coitado moribundo ta assim tão angustiado.
Mas graças a Deus e ao Doutor Prefeito o coveiro José estava ali para resolver a questão. Ele acabaria com aquela horrível sina, a sina de um homem que se chamava Indigente e que morto, não queria assumir sua morte morrida, por falta de gestos de humanidade.
José fez a coisa certa. Diante de gemidos insistentes, leu o atestado de óbito pro morto, ressaltando que havia sido assinado, por ninguém menos do que, o próprio prefeito, que também era médico, e... , e..., e..., e tinha ido pro estrangeiro. Ressaltou que ninguém nem mesmo ele, em estado de alma penada poderia contestar.
Tudo ficaria bem. Saiu. Pegou umas flores de Jaguatirão, umas velas que haviam sobrado do dia de finados, pôs uma gravata e voltou pro sepulcro. Ali, improvisou uma cerimônia, com o que lembrava de todas as cerimônias fúnebres que havia presenciado. Como não sabia se o Senhor Indigente era católico ou protestante, rezou um pai nosso e salpicou de “aleluias”. Depois pronunciou algumas tenras palavras: _ Deus o tenha. Acabou o sofrimento é hora de descansar. Aceite o Senhor Está numa melhor...
Foi realmente uma cerimônia única e emocionante, dizem até que o coveiro chorou. Quanto ao Senhor, Indigente, parece que gostou, pois de dentro do esquife se podiam ouvir seus soluços, ao que parece, soluço de um conformado. Diante disto José o se mostrou entusiasmado. Certamente o morto havia aceitado a realidade, é como se disse: Está consumado, a ti entrego o meu espírito. Por fim, em meio a expressões mutuas, o coveiro José restituiu os sete palmos de terra, cartesianamente contados, sobre o caixão daquele, que com ele, havia passado momentos tão distintos.
Desta maneira se silenciou o Senhor Indigente. Um homem bom, como todo o bom morto. Que morreu por que o Doutor disse que morreu; Morreu por que o coveiro disse que o Doutor disse que morreu; Morreu por que acordou tarde e quando se deu conta, viu que sua expressão de vida, tinha menos credito do que uma simples assinatura.


Lembre-se:
Enquanto olharmos o mundo, com olhares de coveiro, achando que a ciência esta acima da própria vida e de seus mistérios, os indigentes, aqueles sem nome ou expressão, continuarão a ser enterrados vivos no cemitério da vida.

Texto escrito por: Uma Ovelha.

quarta-feira, 12 de março de 2008

Texto 001 – Ovelhas, e o melhor de seu pasto.

Recentemente estava eu imaginando como seria na integra a vida de uma ovelha. Nesta minha infiltrada sem permissão, das minhas amigas ovelhas claro, descobri semelhanças com meu dia-dia.

Quanto ao Pastor
O bom pastor sempre leva suas ovelhas ao melhor pasto, não importa se a grama e extremamente macia em um lugar com muita água, sombra e sem perigos eminentes a ovelha, ou se existe simplesmente pequenos arbustos em meio a um deserto próximo a alcatéias, o pastor sempre levara suas ovelhas aos melhores lugares que conhece.

Talvez suas limitações em conhecer novos pastos seja por pouca experiência, medo de procurar novos lugares, afinal ele sempre apresentou as ovelhas os mesmos pastos e nenhuma morreu, podem no máximo terem ficado entediadas com o mesmo lugar, mas pasto não é para alegrar nenhuma ovelha, mexer com suas emoções ou algo assim, mas para se alimentarem e se este pasto as manteve vivas e com saúde, porque mudar?,

Também temos outro tipo de pastor, aqueles que não se importa com o pasto que alimenta suas ovelhas, afinal ele, já tem a lã a carne e a gordura que precisa para ele e sua família.


E as Ovelhas?
Aaahhh, as ovelhas, existe um tipo de ovelha que sempre está feliz com o bom pasto que as alimenta, sua lã fica viçosa, seu corpo cada vez mais forte, resistente as mudanças de ambiente, clima, cada vez mais forte contra as doenças dos dia-a-dia, sejam físicas ou psíquicas, afinal se elas são sempre bem alimentadas elas nunca desviarão seus passos do caminho apontado por seu pastor. Mas também nunca deixam de olhar para onde estão sendo levadas, e ele o pastor, sempre as leva a pastos sádios o que as torna cada vez mais saudaveis, elas confiam na maturidade do seu pastor quanto sua responsabilidade com suas vidas e suas.

Mas claro, existe no rebanho aquelas ovelhas que insistem em reclamar, reclamam da distancia, sempre é muito perto ou muito longe, nunca é ideal. Estas são aquelas que olham as outras ovelhas e sempre vêem diferenças, seus olham são capazes apenas de ver se as outras são mais magras ou mais gordas, mais velhas ou mais novas, quais tem mais lã ou menos lã, ou quais tem mais gordura ou menos gordura, sempre buscam diferenças (consciente ou não).

Nunca são capazes de identificar homogeneidade no rebanho, para estas, tem que existir diferenças e quanto mais ovelhas pensarem igual a elas melhor, se tiverem oportunidade, estas ovelhas vão doutrinar outras ovelhas a serem como elas, se elas tiverem oportunidade, contaminam as outras ovelhas no berço.

Também existe um outro tipo de ovelha, a que não percebe o caminho que está seguindo, que não importa o que estará passando pelo caminho, o pasto pode ser seco ou verde, para ela nada faz diferença, afinal por que ela está ali mesmo ?

Mas, as ovelhas mais difíceis acredito eu, são as ovelhas que insistem em ficar aos pés do pastor. Para identificá-las é simples, basta olhar para seu aspecto, geralmente são magras, se alimentam de um pasto pisado e amassado (até porque, mesmo um pequeno grupo de ovelhas aos pés do pastor, o pasto ao redor fica amassado, pissado, sem vida, pois como disse ficam muito próximas umas das outras.

Estas realmente desejam estar aos pés dos pastor, e neste pequeno espaço existe muito empurra-empurra e o que menos importa é a qualidade do pasto, até porque o mais importante para estas ovelhas é serem notadas pelo pastor.

Estas sempre acabam adoecendo e são as primeiras a ficarem doentes no rebanho e o interessante destas ovelhas é que nunca querem ficar sob os olhos do pastor, mas aos pés do pastor. Elas também tem o apoio em geral do seu pastor, se não fosse assim, esse grupo não existiria, ele o pastor, cria não somente um grupo doente, mas as enfraquecem cada vez mais para as caminhadas da vida.

Estas ovelhas precisam amadurecer e como este processo é lento, cabe ao rebanho paciência com elas, maturidade e muita vontade do pastor para mudar este grupo, até porque, tirá-las de seus pés é um processo doloroso tanto para ele como para elas.


O Pasto
Pasto, pasto, pasto, como é bom um bom pasto, de cor verde bem definida, tem sais minerais abundantes, pasto para todo lado, água fresca por perto nunca pode faltar, até porque, pasto verde precisa de boa fonte de água por perto, água viva.

O bom pasto geralmente não oferece perigo, a visão oferecida por ele vai longe, seus limites aos olhos não tem fim, sempre em lugares altos, nunca em vales, as boas ovelhas são capazes de sentirem segurança no lugar onde estão e sabem que sua alimentação alem de farta, também é saudável.

Esses pastos não causam nenhum tipo emoção ou arrepios, mas causam sempre reconhecimento, amor, devoção por Aquele que primeiramente preparou o pasto com toda a segurança a seres tão frágeis, como somoms nós as ovelhas, e claro, depois a estas ovelhas nasce o sentimento de agradecimento para com aquele que as levou até aquele pasto, seu pastor.


Bom, enquanto algumas ovelhas ficam fortes com o bom pasto e se preparam para o grande dia, estar com o Dono das ovelhas, outras infelizmente se preparam para a morte, simplesmente por escolherem alimentarem seus egos e ficarem aos pés de sua vontade e egoísmo, estas são as doenças que as impede de chegarem vivas ao grande dia da visita do Dono das ovelhas.

Texto escrito por: Uma Ovelha.